25 de jan. de 2013

Uma teoria sobre a tese ou uma tese sobre a teoria

"Contudo algo é certo: o poeta é o único homem verdadeiro e o melhor filósofo é tão somente uma caricatura dele. " Schiller

Escrevedo a tese ou uma poesia?

De que valerá uma tese que não tenha, ao fim e ao cabo, tido como verdadeiro, profundo e íntimo objeto de pesquisa o próprio pesquisador?

Se não for para ensinar sobre si mesmo, sobre sua visão de mundo, sobre seus autores escolhidos e os preteridos, sobre o sentido que a escolha daquele tema, daquele objeto, daquela abordagem, de que valerá passar anos debruçado sobre livros, dados e escrita, que sentido de fato tem pesquisar?

Haverá mesmo relevância num produto acadêmico, fruto de intensa pesquisa e dedicação, de aprofundado cruzamento de dados, teorias e conceitos, que aparentemente agrega ao conhecimento acumulado pela humanidade mais um modo de pensar, mais uma abordagem possível do assunto, haverá mesmo relevância se ao fim da última página da vasta bibliografia não houver no rosto do pesquisador um sorriso de satisfação?

Queira ou não o pesquisador, tenha sido ou não intencional, esta pesquisa inevitavelmente o levará para dentro de si e de lá o conduzirá para a construção de um novo ser.

No caso de pesquisa em arte, então, esse sentimento parece explodir.

Qual pesquisador em arte (artista ele próprio estejamos certos) não tem crises ao se dar conta de que por vezes fala demais e faz tão pouco? Sobretudo se assiste no meio da pesquisa a um filme de Almodóvar, se escuta uma canção de Michael Jackson, se lê Adélia Prado, se assiste ao Circo do Soleinildo...

Atire a primeira pedra o pesquisador em arte que nunca pensou em jogar tudo pra cima e entrar numa sala de ensaio, num estúdio, num ateliê e colocar ali - seu território de fato - tudo aquilo que ele aperta tanto a 'mufa' pra ver se sai. Os que têm a felicidade de produzirem no processo de montagem, são felizes, é fato. Mas, inevitavelmente vem a parte da escrita e não que eu a odeie, mas ela sempre será menor que a parte da criação artística.

Sim, eu sei, a escrita de uma tese é sempre criação, mas nela a gente não pode transgredir como nos é de direito em nosso território.

Quando olho pra frente e me vislumbro olhando pra trás, fico imaginando a que terá ajudado minha tese sobre futebol e tragédia, além de a mim mesma.

E fico tentando imaginar a importância das coisas que deixei de fazer.

Por isso, em defesa e em honra à artista que sou, aos rastros que quero deixar e ao patrimônio que quero legar à humanidade, insisto em jamais deixar de viver intensamente para dedicar-me exclusiva e abduzidamente à tese. Pelo seu próprio bem, inundo-me de coisas do mundo, dedico-me aos sonhos e prazeres e do fundo dessa experiência, sinto a pesquisa fazer sentido pra mim, primeiramente pra mim. E tudo que leio, acaba falando comigo sobre tudo o que sei e tudo o que estou pra descobrir:

Pois num foi fichando um livro ontem que achei essa preciosidade que me inspirou a bloguear hoje?!?

Manda mais uma, Schiller:

"No fundo é apenas na própria arte que sinto minhas energias; na teoria tenho sempre me atormentado com princípios." 

(SCHILLER apud MACHADO, 2006, p. 53 - pra não perder a estética da pesquisa)


6 comentários:

  1. Você broca!!!

    Inspirador!

    Deixa a respiração
    um pouco mai
    s pesad
    a, enraizada. Não sei...

    'E viva a rapaziada'

    ?

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  2. Linda reflexão sobre seu processo, Drica. Provocador.

    E Viva a Rapaziada!

    E tem rapaziada de todo jeito.

    "Quando quero saber o que ocorre a minha volta
    Ligo a tomada abro a janela escancaro a porta"

    Aos tempos de linha de fronteira rompidos
    doar tempo aos tempos de ermitão e vaziez produtiva nos silêncios bachelardianos do recolhimento pra escrita

    e rir

    mixar, samplear, misturar academia e arte...
    Não pensar in box...
    Entender Criação artística como pesquisa científica e tese como subproduto (ou tese como performance).
    E Evoélza, Algaravias!

    e rir.

    Criar/Lecionar/Pesquisar Teatro no Sertão High Tech
    E chorar fruindo os Babilaques de Waly, ao menos uma vez por dia.

    e rir.

    Roberto de Abreu

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    1. Só vale a pena mesmo, de fato, se mesmo chorando, ao final, rirmos! Te amo,a migo!

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  3. E viva à bricolagem. sua tese merece uma escrita trangressora e autorreflexiva e linda como essa. gostei desse troço de ser o verdadeiro homem, segundo schilller.

    Você broca!!!2

    Inspirador!2

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  4. Eu perdoo ele pelo uso do homem genérico, tá tão longe da gente o bixin, das nossas discussões sobre gênero. O que vale é a ideia, né? Esse 'cara' também sou eu! Abraços, amigo!

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